domingo, 25 de abril de 2010

Aqüífero Guarani: discutir diretrizes para gestão do uso. Por Júlio Perroni





É ingênua e infundada a crença de que as reservas estratégicas desse aqüífero serão a salvação da pátria no futuro. Algumas diretrizes para uso racional e sustentável precisam ser discutidas e implementadas imediatamente, com amplo apoio da população para desestimular o processo de explotação predatória do Aqüífero Guarani, tais como:

1. Adotar o princípio do uso de águas menos nobres para fins menos nobres: Apesar de ser considerado um fim nobre é preciso repensar o uso da água nos sistemas públicos de abastecimento, devido aos desperdícios gerados pelos grandes índices de perdas nas redes de distribuição e pelos usos não potáveis que representam mais de 70% da água consumida nas residências, tais como: a descarga de vasos sanitários, lavagem de roupas ou pisos e para irrigação de jardins. É também um grande desperdício o uso de água mineral e potável como água de serviço na indústria e agroindústria;

2. Exigir eficiência no uso da água: Os órgãos gestores de recursos hídricos precisam adotar imediatamente posturas muito mais rígidas de avaliação e exigência da eficiência no uso da água, para usuários tanto públicos como particulares;

3. A água potável não deve ser usada para fins termais: A água quente usada para fins recreativos e em balneários pode e deve ser extraída de aqüíferos mais profundos, que armazenam água mais salinizada e mais quente e não necessariamente do Guarani, principalmente nas regiões onde esse apresenta água potável;

4. Iniciar estudos técnico-econômicos das técnicas de recarga administrada: A recarga administrada, que era antigamente chamada de recarga artificial, pode ser realizada durante os períodos chuvosos com base nos excedentes pré-tratados de escoamento superficial. A água injetada no aqüífero servirá de compensação da extração e regularização das reservas de água subterrânea. Atualmente já existem técnicas bastante estudadas e amplamente aplicadas em diversos países. Com a regulamentação da recarga administrada, os usuários de poços poderiam adotá-la para controlar o alívio de pressão causado pela explotação ou para melhoria da qualidade da água subterrânea; e

5. Regulamentar a cobrança pelo uso da água: Nas áreas de aqüífero livre a cobrança pelo uso da água do Aqüífero Guarani pode e deve seguir a regras vigentes, pois nessa área o aqüífero participa do balanço hídrico da bacia hidrográfica local. No entanto, uma parte dos valores arrecadados com a cobrança pela água extraída da porção confinada deve ser destinada a um fundo interestadual responsável pelo financiamento de projetos de abrangência regional e voltados para a regulação da explotação sustentável na área confinada.

Precisamos estancar a explotação predatória que vem sendo feita, pois o Aqüífero Guarani não é uma fonte inesgotável de água doce. A insistente divulgação dessa visão megalômana impede que se reconheça amplamente a importância das condições favoráveis do clima e da existência de bons aqüíferos freáticos nessa região. Essas condições é que possibilitam a existência dos rios perenes e esses sim constituem uma fonte renovável de água, que não pode continuar a ser vilipendiada, com descartes de efluentes urbanos e industriais, uso intensivo de agrotóxicos e eliminação dos residuais de matas nativas.

As imagens pertencem a:
a) http://psiubiologia.files.wordpress.com/2008/11/aquifero_20planeta1.
b) Porcher, C. C. O ciclo hidrológico. In: http://www.ufrgs.br/geociencias/cporcher/Atividades%20Didaticas_arquivos/Geo02001/Ciclo%20Hidrologico.htm

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